quarta-feira, 2 de maio de 2012

A Semente Borboleta




Ontem eu estava voltando do Restaurante Universitário, passando pelo bosque da Engenharia Ambiental, quando vi uma coisa no chão que me chamou atenção. Era uma semente de pinheiro, daquelas que, quando soltas no ar, caem rodopiando. Sempre achei interessante essa coisinha, mas não sabia bem o porquê. Ontem, porém, a visão da semente no chão me trouxe à consciência uma memória antiqüíssima de um fato ocorrido em minha infância. E essa lembrança trouxe consigo um sentimento diferente, desses raros, difíceis de explicar. Algo com sabor de amor, tristeza, alegria, saudade...
Uma vez, quando eu era criança, minha mãe viajou, envidada pela escola em que trabalhava, para fazer um curso de aperfeiçoamento. Não lembro bem como foi a sua chegada, só sei que era noite e imagino que eu estava ansiosamente esperando por ela. Mas o que ela trouxe, disso eu não me esqueceria. Era uma semente de pinheiro.
Eu nunca tinha visto aquilo antes. Fiquei maravilhado como caia rodopiando. Era tão legal... Minha mãe levantava a semente e soltava no ar para eu e meu irmão vermos. Fazia isso com todo cuidado e falava de como era frágil, pois a “asa” da semente era fina e delicada como a asa de uma borboleta.  Contava também de onde tinha trazido. Logo eu já tinha pego a semente e estava brincando com ela, sempre ouvindo minha mãe dizer para pegar com cuidado para não estragar. Mas logo a “asa” da semente rasgou e ela passou a cair no chão como uma pedrinha qualquer. Eu tinha estragado o brinquedo.
Vendo o desapontamento do meu irmão (mais novo) e com vergonha por ter estragado algo tão especial, e que minha mãe tinha falado tanto para cuidar, desatei a chorar. Acho que nunca outra vez chorei como daquela vez. Um sincero desapontamento comigo mesmo... Mas, apesar disso, minha mãe não disse nada, apenas me consolou...
Voltando ao bosque da Engenharia, fiquei pensando porque um fato tão corriqueiro pôde ter sido tão marcante e sua lembrança tão carregada de sentimentos. Então me coloquei na minha própria posição daquela idade e fiquei imaginando o que teria pensado naquele momento. Assim percebi que naquela época aquela semente de pinheiro tinha um valor diferente, muito maior do que um objeto comum. Era algo novo, que eu nunca tinha visto, e trazido de um lugar distante e desconhecido. E mais, minha mãe mostrava para nós com tanta empolgação, para nos entreter, que me pareceu, em minha mente ingênua, que para ela era algo de muito valor. Quando eu estraguei, foi como se tivesse quebrado uma jóia. Como minha mãe tinha advertido várias vezes para ter cuidado, pensei que ela iria lamentar a perda e ficar furiosa comigo. E por isso comecei a chorar. E por isso eu fiquei surpreso quando ela me consolou. É claro que para ela era apenas um objeto achado no chão entre tantos semelhantes, mas eu acreditava que tinha valor.
E quando eu comecei a chorar e pensar que ela iria brigar comigo, qual não foi a minha surpresa quando ela me abraçou e me consolou! Foi sublime... Eu, o destruidor daquele magnífico brinquedo, sendo abraçado com todo carinho. Acho que nunca senti tanto amor. Aquilo me fez sentir que para a minha mãe eu era mais importante do que aquele “objeto precioso”. Naquele dia, sem saber, eu aprendi uma importante lição sobre o amor.

Um comentário:

  1. Sempre achei que o Leonardo Da Vinci ao inventar o helicoptero, tinha uma folhinha dessas na mão. hehe

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